Ferro Rodrigues e Fernando Gomes fizeram propostas durante uma conferência na Assembleia da República.
in Diário de Noticias | 04-04-2018 | David Pereira
Mais legislação e agravamento de penas foram as propostas sugeridas ontem, na Assembleia da República, para combater o clima de crispação em que o futebol português está mergulhado.
No âmbito da conferência Violência no Desporto, o presidente da Federação Portuguesa de Futebol defendeu "regulamentos mais duros, que inibam as pessoas do futebol de contribuir para a destruição do setor". "É inaceitável que agentes desportivos contribuam para a destruição da figura do árbitro. Incentivamos os clubes a endurecer as penas para quem coloca em causa a seriedade dos árbitros", sugeriu Fernando Gomes, que revelou um crescimento do número de multas em relação à época anterior: 6% para o comportamento de adeptos e 245% para dirigentes.
"Estamos a três meses de poder alterar regulamentos para a próxima época. Temos de fazer tudo para começar a próxima época com outra capacidade de resposta", acrescentou o líder da FPF, defendendo "a criação de uma autoridade administrativa, exclusivamente vocacionada para a segurança e combate à violência no desporto, dotada de recursos e não apenas de atribuições e competências, que tornem exequível a celeridade e inevitabilidade da ação sancionatória face à inobservância da lei".
Ferro defende mais escrutínio
Na mesma linha, o presidente da Assembleia da República considerou que "ao poder político cabe ir acompanhando com atenção o desporto e o futebol em todas as suas dimensões". "E, se necessário, através do Parlamento ou do governo, legislar contra a violência, a corrupção, a intimidação, a fraude, a calúnia, as violações do segredo de justiça após denúncias anónimas", afirmou Ferro Rodrigues.
Em relação à suspeição de resultados, o líder do Parlamento admitiu que o futebol deve ser mais escrutinável: "O pior que poderia acontecer seria, em paralelo à importante participação tecnológica na verdade dos resultados, existirem insinuações sem resposta a questões como lavagem de dinheiro, corrupção de intervenientes fundamentais, a cultura do ódio e da violência organizada. Vejo com bons olhos, sem pôr em causa a autonomia dos poderes próprios, que o futebol seja mais escrutinável."
Já João Paulo Rebelo, secretário de Estado do Desporto e da Juventude, falou na urgência de alterar a legislação relativa às claques, considerando a atual "ineficaz". "Não sendo eles os únicos responsáveis pela violência, mas estando muitas vezes no epicentro do debate, exigem que se criem regras com aplicação prática e, sobretudo, garantam a identificação dos seus membros aos agentes de segurança", referiu o governante.
Bruno de Carvalho discorda
Na mesma fila do homólogo benfiquista Luís Filipe Vieira, mas a três cadeiras de distância, o presidente do Sporting mostrou discórdia com a proposta do agravamento de multas. "Quando se diz que na FPF se tem atuado muito e que se vê pelas multas recebidas, acho que não tem validade matemática nem substantiva. Não é pelo aumento de multas que chegamos a algum lado", defendeu Bruno de Carvalho. O líder leonino disse que "não é o que diz o presidente A ou B que traz violência", que "se fosse presidente da Liga proporia que durante duas semanas os líderes dos clubes não falassem" e defendeu o papel dos clubes: "Estão a ser o único garante de que o futebol ainda tenha adeptos. Um dos problemas são os programas desportivos que trazem o lixo tóxico."
No segundo painel do dia, dedicado à justiça e à violência no desporto, o líder leonino questionou a atuação em relação aos grupos de adeptos organizados: "Há uma investigação que demorou quase um ano, séria, que teve por base a audição de comandantes da polícia e onde foi verificado claramente o apoio de um clube a uma claque ilegal. E o processo foi arquivado."
APAF, sindicato e Liga críticos
O presidente da Associação Portuguesa de Árbitros de Futebol (APAF) disse ser "preciso alterar este clima vergonhoso em que se põe em causa a seriedade de todos" e recordou que "o árbitro continua a ser o elo mais fraco". Luciano Gonçalves visou ainda os programas televisivos de debate de comentadores, acusando a comunicação social de transmitir "semanalmente 45 horas de lixo tóxico". A propósito desses espaços na TV, Ferro Rodrigues afirmou que "essa é uma forma barata, mas perigosa e lamentável, de ter audiências".
Por sua vez, o líder do Sindicato dos Jogadores Profissionais de Futebol, Joaquim Evangelista, acusou os dirigentes dos clubes e o governo de serem incapazes de resolver o problema. "Cada um prefere dizer o que fez, o que pode fazer, independentemente de saber se essa posição no conjunto global tem eficácia", atirou, insatisfeito.
Pedro Proença, presidente da Liga, alertou para o problema da comunicação. "A violência comunicacional é algo complicado de travar. Todos têm sofrido este tipo de violência e a consequência passa pela perda de credibilidade. Esta violência verbal que está a crescer pode colocar em causa uma indústria que gera milhões. Aos presidentes exige-se responsabilidades", alertou.
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